sábado, 11 de julho de 2009

Milho de Pipoca




A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo de grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham ser quem devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser.
Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer
Pelo poder do fogo podemos repentinamente, nos transformar em outra coisa.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.
Assim acontece com a gente
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos.
Dor.
Pode ser fogo de fora: perder amor, perder um filho, o pai, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão-sofrimento
cujas causas ignoramos.
Há sempre o remédio do remédio.
Apagar o fogo.
Sem o fogo o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade grande de transformação. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela. Lá dentro ficando cada vez mais quente pensa que há sua hora chegou: vai morrer. Dentro da sua casca dura, fechada em si mesmo. Ela não pode imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.
A pipoca não imagina aquilo do que ela é capaz.
Ai, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece.
Pum!-ela aparece como outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A sua presunção e o medo são a casca de milho que não estourar.
O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca e macia
Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo.

Rubem Alves. Do livro: “O amor que acende a lua”


5 comentários:

  1. Esse texto do grande mestre Rubem Alves me acompanha há muitos anos.

    É óbvio que niguém quer passar por problemas, mas eles nos ajudam a crescer e superar limite. Assim somos os milhos que viraram pipocas. Pessoas com tendência para piruás são aquelas que têm medo de arriscar, porque não querem sofrer.

    Abraços.

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  3. Mto bons os textos d vcs... e triste o destino dos piruás!
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    bjs

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  4. Sublime a escolha deste texto...

    O FOGO... quente o f(®io ao sol...
    ©alor e sensibilidade na dilatação dos seres...

    imenso beijinho

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  5. Sempre há perido que nos transforma, mas ai que nos tornamos pipoca, ou piruás...

    Fiquem com Deus, meninas gêmeas L & L.
    Um abraço.

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Ei você ai, obrigada por suas palavras e bla bla bla