terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Dor que a minha alma tem

Não sei quantas almas tenho
Cada minuto mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem acabei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma, não tem calma
Quem vê é só o que vê
Quem sente não é quem é

Atento ao que sou e vejo
Torno-me eles e não eu
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu
Sou minha própria passagem
Assisto a minha passagem
Diverso, móbil e só
Não sei sentir-me onde estou

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo
O que passou a esquecer
Noto á margem do que li
O que julguei que senti
Releio e digo foi eu?
Deus sabe, porque o escreveu

(Fernando Pessoa)

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Ei você ai, obrigada por suas palavras e bla bla bla